1. |
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A fama é fêmea
Uma gata de rua prenha
Que quando parida
Suas crias serão ofertadas
Em sacrifício do deus dará
A fama é macho
Homens e mulheres
Gordos e magros
Artistas, sacerdotes, políticos
Traficantes, acadêmicos, cientistas
Militares, desportistas, empresários
Quando há um digo não é um falo
A voz tem um calo capital
A fama se traveste
Não se inverte
A fama é uma marca
A fama se entrete
Se diverte em arco-íris
Se vende para todos os gostos
Em cores, sabores e odores
A fama tem ouvidos afinados
A fama se reúne
Ergue seus próprios monumentos
Estraga casamentos
Arte da produção cultural
A fama é um espetáculo
Para a fama se escreve, se compõe, se representa
Se pinta, se filma, se costura, se cozinha
Se desenha no computador, se para de comer,
Se treina até o entardecer, se tira a roupa, se fode
A fama é marinheira, navega em ondas e mares
A fama se fotografa
A fama é quase feito eu
Um ser que acorda e dorme
Se alimenta e se move
Mas a fama comigo não se equivale
Na verdade, por mim ela se arde
Sem mim, sem ti
A fama é a fumaça do meu cigarro
Sei do avesso da fama
Não é o anonimato
Se chama José
Poderia ser um Zé ninguém, um Zé qualquer,
Mas é Seu Zé
Seu Zé corta pedras
Trabalha com talhadeira,
Marreta, corpo e pedra
Intui o ponto da pancada
Fabrica fissuras
Segue veios
Racha rocha no braço
Se talha à sua imagem e semelhança
Seu zé desmancha montanhas
E dela são feitas estradas, muros, casas
E calçadas da fama
Quando tem fome Seu Zé fuma
Come cuzcuz, caldo de osso, ovo
Depois, paralelepípedo
Seu Zé, ama, reza
Recebe, compra e paga
Bebe cachaça
Liga a tv prá dormir
Seu Zé é quase feito eu
Um ser que dorme e acorda
Se move e se alimenta
Mas Seu Zé comigo não se equivale
Na verdade, Seu Zé não depende de mim, nem de ti pra nada
Muito menos daquilo que é avesso
A quem Seu Zé deve mesmo são às pedras que o educaram
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2. |
Cirrus
03:35
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3. |
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Mil caracteres em chamas segundo
Raimundo com ódio de si
Profundo sentado na beira do rio
Olhando a farinha passar
Criado no oco do mundo, Raimundo
Odeia a rima, odeia o mundo
Se a pedra no caminho
Raimundo pega e fuma
É coração de pular cerca
Aorta de barra funda
Aorta de barra funda
Nos bares, em chamas
Quase se torna um mantra
Um espinho, miocárdio
Na ala dos condenados
No bolso carrega a chama
De um poema tira a lama
Se a pedra no caminho
Raimundo pega e fuma
É coração de pular cerca
Aorta de barra funda
Aorta de barra funda
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4. |
Laura Palmer
04:01
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5. |
Pingo d'água
10:24
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Te amo bem mais agora
Que está sem palavras
Abominas o mercado
Deixou o cartão em casa
Nas esquinas sem nome
Bebemos promoções
Semi nuas a varejo
Chicos em construção
Todo pingo d’agua é igual
Menos o que você guarda
Todo colar de osso no pescoço
Tem um osso pra se pendurar
Pode ser o preço que tu compra
Ou será o preço que tu vende
Se ficar perto, ou se fica longe
A pergunta é se rende
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6. |
Mercúrio Música CE, Brazil
Mercúrio Música - Fortaleza, Brazil - Experimental music
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